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Resenha

AS FACES ESPECULARES DO PASSADO – ANTIGUIDADE E IDADE MÉDIA: UMA VISÃO MARANHENSE

Álvaro Alfredo Bragança Júnior[1]

O livro Literatura e História Antiga e Medieval – Diálogos Interdisciplinares veio à luz, vinculada ao Núcleo de Humanidades (coleção Humanidades), pelo selo da EDUFMA, Editora da Universidade Federal do Maranhão. A organização desta obra lançada mais precisamente na cidade de São Luís, estado do Maranhão, ficou a cabo de duas das mais destacadas maranhenses da área de História e Literatura, a saber, respectivamente, as professoras Adriana Zierer, da UEMA, e Márcia Manir Miguel Feitosa, da UFMA. Por isso, é mais que indispensável aquilatar o valor desta obra dentro do cenário acadêmico do Maranhão e, por que não dizer, do Brasil.

A primeira questão que se colocaria seria: por que estudar Antiguidade e Idade Média em terras da Balaiada? Uma proposta de resposta seria a atemporalidade dos acontecimentos da vida do Homem, com suas tensões, distensões, sentimentos e emoções, que não destoariam desde o Homo habilis até o não tão sábio Homo sapiens. Para se conhecer os (des)caminhos reais e míticos dessa longa trajetória que nos leva à serpente que circunda os ludovicenses atuais, temos que nos deter no passado, na sua própria História enquanto produtora de estórias. Nesse momento, o antigo torna-se contemporâneo!

A partir da perspectiva acima mencionada – a presentificação dos estudos da Antiguidade e do Medievo – chama-nos a atenção no título da obra em questão o complemento “Diálogos Interdisciplinares”. Literatura e História são duas áreas do conhecimento que são parceiras na tentativa de (re)construção de saberes e procuram acompanhar os (dis)cursos do e sobre o Homem ao longo de séculos. Como intérpretes privilegiados, historiadores e literatos leem, conjecturam hipóteses, objetivam evidenciá-las e as apresentam ao público leitor. Eis a primeira das contribuições do livro. Contudo, há mais!

Após o Prefácio à obra encontramos a lista de articulistas, todos renomados docentes, oriundos das mais distintas universidades brasileiras, do Rio Grande do Sul até o Maranhão. A variedade de temas tratados demonstra o amplo arco cronológico que os estudos antigos e medievais abarca. O mundo greco-romano e suas especificidades histórico-culturais estão presentes em cinco artigos, além de um texto de autoria de Margaret Bakos, que versa sobre a mulher no Antigo Egito. Doze ensaios, por outro lado, centram-se sobre a Idade Média em seus múltiplos ângulos, mesclando o mundo germânico com a literatura portuguesa, a cavalaria com a religião, dentre outros entrecruzamentos possíveis. Além disso, o artigo de Maria Filomena da Costa Coelho sumariza as áreas de conhecimento englobadas pelo livro, pois a colega discute como historiadores escrevem romances – uma declaração acadêmico-pessoal da medievista de Brasília.

A voz do Maranhão – um terço do número total de autores – faz-se sentir nos estudos de pesquisadores maranhenses ou que atuam em seu solo. Adriana Zierer (UEMA) ainda em busca do Graal, Ana Lívia Bomfim Vieira (UEMA) e suas reflexões sobre Atenas no século V, Dino Cavalcante (UFMA) que nos traz o riso medieval, Lyndon de Araújo Santos (UFMA), que tematiza os textos religiosos sob o viés de procedimentos de hermenêutica e Márcia Manir Miguel Feitosa (UFMA), ao discutir o “mito” de Inês de Castro sob a pena de Fernão Lopes, dão a cor local ao estudo daqueles lugares e épocas.

Uma agradável e enriquecedora leitura, eis como se pode caracterizar o material encontrado em Literatura e História Antiga e Medieval. Sem perder o tom acadêmico-profissional, os textos agradam também a quaisquer interessados nas épocas mencionadas. Há como que um diálogo entre os textos, pois os artigos, que seguem em ordem alfabética do nome de seus autores, alternam-se entre Antiguidade e Idade Média, levando os leitores ao vaivém do conhecimento.

Como último tópico neste ensaio que se pretendeu resenha: os estimados leitores podem ter percebido que não foi feita a listagem com o nome de todos os trabalhos do livro. Tal fato, contudo, foi proposital. Uma tal viagem no tempo e no espaço demanda antes de qualquer coisa o ingrediente da curiosidade. Descobrir o quão próximos de nós estão gregos, egípcios, romanos e medievais é tarefa individual, todavia, como um espelho de dois lados, Literatura e História Antiga e Medieval não só espelha, como também nos conduz à especulação e reflexão sobre uma Antiguidade mais que pós-moderna e uma Idade das Trevas, cuja escuridão não sobrepuja a claridade de seus eternos ensinamentos!

[1] – Álvaro Alfredo Bragança Júnior é Doutor em Letras, Pós-Doutor em História Medieval, tradutor e professor universitário de Língua e Literaturas de Língua Alemã na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atua como professor Permanente do Curso de Pós-Graduação em História Comparada da mesma universidade.

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Resenha publicada em 11 de agosto de 2013 no caderno Alternativo do jornal O Estado do Maranhão.

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